A manchete enaltece que uma cirurgia “inédita e revolucionária” ocorreu
num hospital em Nova York e que esse pode ser o passo inicial para mudar a
realidade de quem espera por um transplante de rim. O procedimento aconteceu no dia 25 de setembro, quando uma equipe médica realizou um
xenotransplante, o transplante de um órgão entre animais de espécies diferentes.
Neste caso, o corpo de uma mulher recebeu o rim de um porco
geneticamente modificado para apagar uma molécula que provoca rejeição em
humanos.
Já nesse primeiro quesito, foi considerado o fato de que os porcos são
os animais que mais se parecem com os seres humanos quanto à anatomia e ao
funcionamento de órgãos. Prontamente, me recordo da questão ética levantada quanto
à contradição do princípio dos testes em animais: “fazemos testes em animais porque
eles se parecem conosco”, mas, quanto ao sofrimento a que são expostos, “eles
são apenas animais”. Ou seja, os consideram insensíveis, meros objetos de
estudo e, nesse caso, produção.
Pois bem, aqui traço um paralelo quanto ao uso de órgãos de porquinhos
bebês, sim, a própria matéria se refere aos “porquinhos”, que serão mortos por
um propósito exclusivamente humano, mais uma vez.
Sem pudor, exibem as cruéis celas de gestação, onde ficam confinadas as porcas
mães a gerar, constantemente, pencas de filhotes para o abate, na indústria da
carne, agora, para serem mortos por seus órgãos, para a ciência.
Em plena era digital, com o avanço da manipulação de células tronco e impressão 3D de órgãos, até mesmo do cérebro, é sério que é preciso movimentar uma cadeia de produção terrível que custe a exploração e morte de animais? Simplesmente por se tratar de animais, que também são seres sencientes, com direito à vida e seus próprios propósitos.
Mesmo em se tratando da questão animal, a opinião pública ficaria tão confortável se o tal rim fosse retirado de um cão ou de um gato? O fato de ser um porco faz com que seja socialmente aceito? É cientificamente comprovado que porcos tem inteligência similar a crianças humanas de 04 anos, com noção de identidade e fortes laços afetivos e parentais. Mais uma vez, o que se apresenta é o especismo (julgar um ser por sua espécie).
É bem verdade que doentes renais, que precisam realizar regularmente procedimentos
dolorosos e invasivos como a hemodiálise, estão em franco sofrimento. Diante
disto é justo tentar promover a cura deste mal, no caso o transplante.
Mas, mais uma vez considero, não terão esses cientistas optado pelo caminho
mais fácil, talvez mais barato, quando há uma gama de possibilidades.
Quando carnes são produzidas a partir de células animais, também os órgãos
podem ser. E por que não produzir órgãos a partir de células humanas?
Não sou cientista, mas tenho algum conhecimento básico de muito do que
vem sendo estudado sobre corpos humanos, produção de órgãos, inclusive transhumanismo.
Como defensora dos direitos dos animais, devo considerar ainda o fato de
quantos humanos, com dietas à base de produtos de origem animal, tem problemas
cardiovasculares, renais, dentre outros, e, quando adoecem recorrem, mais uma
vez, à exploração animal, para encontrar a cura?
Quantos mais iram descuidar da prevenção por conta de uma possibilidade de reparo? Um ciclo vicioso de exploração que a mim não soa bem, não sem explorar outras possibilidades que permitam deixar os animais em paz e romper com o paradigma de que estão aqui ao nosso dispor, e para nosso proveito.
Informações técnicas a partir de matéria exibida no programa Fantástico
da rede Globo. Considerações da redação do Blog.
Redatora, Blogueira, Revisora, Escritora, Vegana. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos |
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