segunda-feira, 24 de junho de 2019

Sobre mães e filhos. As confissões chocantes de um trabalhador de matadouro que se tornou ativista pelos direitos dos animais.





Mauricio Pereira denunciou o tratamento cruel no maior matadouro da França, em 2016. Virou ativista, vai abrir um restaurante vegetariano e conta tudo em livro.
        
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Daniel Vidal

Mauricio García Pereira era só mais um funcionário num dos maiores matadouros da França. O espanhol tinha apenas um trabalho: retirar as vísceras dos corpos dos animais abatidos. Num dia como outro qualquer, sentiu algo de estranho entre os órgãos que lhe chegavam despejados num tapete rolante. No meio do sangue, reparou num pequeno órgão estranho, cor de rosa vivo. Agarrou-o, ainda quente. Quando percebeu do que se tratava, ficou incrédulo, largou a faca e praguejou. Era o feto de um bezerro ainda com vida. Confrontou o chefe que simplesmente ordenou que fizesse o que fazem sempre: tudo para o caixote do lixo.

Quando fez as primeiras denuncias em 2016, as suas revelações provocaram uma onda de indignação na França. Antigo trabalhador do matadouro de Limoges, o espanhol desvendou as condições tenebrosas em que os animais eram mortos. Agora resume tudo em “Maus-tratos Animais, Sofrimento Humano”, publicado na França em 2018 e lançado em 04 de junho em sua versão espanhola – ainda não existe versão em português.

“Quem vem trabalhar por aqui não pode ter escrúpulos”, chegou a dizer a Mauricio o diretor do matadouro de Limoges. O espanhol manteve-se no posto durante quase sete anos, período em que fez questão de registrar e fotografar os comportamentos mais chocantes. Passou a ser uma espécie de agente infiltrado e as imagens que captou com uma câmara oferecida pela L214 – uma associação fundada em 2008 e que luta pelo fim dos maus-tratos animais – correram o mundo.

Apesar de toda a polêmica, tudo se manteve na mesma. “Falei com antigos colegas do matadouro e pouca coisa mudou. Fizeram obras para melhorar a maneira de receber e matar os animais, mas a cadência é a mesma e continuam a matar vacas prenhas”. Durante a sua passagem pelo matadouro, todos os dias eram abatidos entre 20 a 30 bezerros ainda nas placentas, revelou em entrevista ao jornal espanhol “Público”. A denúncia custou-lhe o emprego, embora admita que o voltaria a fazer tantas vezes quantas fossem necessárias.

O espanhol, nascido na Alemanha, era um ávido consumidor de carne. Comia chouriços e presunto todos os dias. Hoje, são raras as ocasiões em que come “um pouco de frango, uma vez por outra”, confessou em entrevista ao “El Mundo”. O trauma de sete anos a atirar bezerros para o lixo tornaram Mauricio um ativista, embora negue que seja possível um “abate ético dos animais”. “Ético não, mas com menos sofrimento, sim, é possível”.

No livro, Mauricio revela a sua própria experiência traumática no matadouro de Limoges para que sirva de denúncia e também de exemplo. Começou a operar numa cadeia onde passavam 35 vacas abatidas por hora. “Soava um ruído e o tapete avançava. Recordo o som e o odor de sangue seco que te obrigam a aprender a respirar pela boca”, explicou ao diário espanhol.

Fechado em salas claustrofóbicas, sem janelas e rodeado de odores intensos e ruídos, Mauricio fez de tudo: de limpar medulas a furar cabeças de bezerros com uma pistola de ar comprimido – tudo para que flutuassem na água a ferver.
A vida numa destas fábricas da morte não é fácil. O próprio confessa ter sido obrigado a recorrer à medicação para conseguir dormir. Quando nada funcionava, refugiava-se no álcool. “Tinha de tomar drogas e álcool, sobretudo álcool, para poder dormir sem pesadelos durante sete horas seguidas”.

“Podes tapar os ouvidos, mas acabas sempre por ouvir o ruído das mães a chamarem pelos bezerros”.

“Nem todos podem trabalhar num matadouro. Podes tapar os ouvidos, mas acabas sempre por ouvir os gritos dos animais, o ruído das mães a chamarem pelos bezerros (…) e os guinchos agudos dos porcos”, conta ao “Público”.

Apesar de ter deixado de vez a indústria alimentar, prepara-se para abrir um restaurante, precisamente em Limoges. No cardápio, não haverá qualquer vestígio de carne: será um espaço vegetariano. O nome transparece a sua experiência de vida, irá chamar-se A Transição. “A minha mentalidade deu uma volta enorme”, diz quando confrontado com a hipótese de voltar a trabalhar num matadouro, ao que nega de pronto.

Hoje, Mauricio dá palestras por toda a Europa e continua a lutar por melhores condições no abate dos animais. Quanto às consequências que este consumo desenfreado pode ter no meio-ambiente, mantém-se otimista. “Os jovens têm uma consciência ecológica que não existia antigamente. A sociedade começa a perceber que ou mudamos as coisas, ou a este ritmo não vemos o próximo milênio”.
        
Reportagem revista 4MEN



Dizy Ayala

Blogueira, Revisora, Escritora, Vegana.
Formada em Publicidade e Propaganda -  
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos
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