A meta de proteger e restaurar sistemas naturais em grande escala é compartilhada por vários grupos e indivíduos. A Wyss Campaign for Nature está trabalhando em parceria com a National Geographic Society para apoiar os objetivos do movimento "30x30", uma iniciativa ambiciosa que visa proteger 30% do planeta, em terra e mar, até 2030.
Outra organização chamada Nature Needs Half atraiu cientistas e grupos
conservacionistas, incluindo o Sierra Club, para pressionar pela proteção de
50% do planeta até 2030.
À medida que o homem continua a expandir rapidamente seu domínio sobre a
natureza — desmatando e incendiando florestas, exterminando espécies e
interrompendo funções do ecossistema — um número cada vez maior de cientistas e
conservacionistas influentes acredita que proteger metade do Planeta de alguma
forma será a solução para mantê-lo habitável.
A ideia ganhou notoriedade pela primeira vez em 2016, quando Edward O.
Wilson, o lendário biólogo conservacionista de 90 anos, publicou a sugestão no
livro Da Terra Metade: O nosso planeta luta pela vida.
"Agora temos medições suficientes das taxas de extinção e das
prováveis taxas no futuro para saber que está se aproximando mil vezes do
patamar que existia antes do surgimento da humanidade", afirmou Edward, em
entrevista ao jornal americano The New York Times em 2016.
Antes considerada uma mera aspiração, essa ideia tem sido levada a sério
por muita gente — não apenas como um sistema de segurança para proteger a
biodiversidade, mas também para mitigar o aquecimento global.
Uma das principais razões para a adoção dessas metas extremas de
preservação é um relatório de 2019, da Plataforma Intergovernamental para
Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), que
descobriu que mais de 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção.
Conduzido por centenas de pesquisadores ao redor do mundo, o estudo é
considerado a análise mais abrangente já realizada da situação da
biodiversidade mundial. Esse relatório concluiu, no entanto, que não são apenas
as espécies que estão correndo risco. A infinidade de funções essenciais à vida
que essas espécies e ecossistemas exercem também estão ameaçadas — desde água e
ar limpos até controle de enchentes e regulação do clima, assim como
fornecimento de alimentos e uma série de outros serviços.
Além disso, alguns cientistas têm receio de que a superfície da Terra
tenha sido tão alterada que o ecossistema global possa estar perto de um ponto
crítico, que desestabilizaria o clima e os sistemas biológicos que sustentam a
vida, causando uma instabilidade ambiental generalizada — e talvez até
desastrosa.
O Parlamento Europeu se comprometeu a proteger 30% do território da
União Europeia, a restaurar ecossistemas degradados, adicionar metas de
biodiversidade a todas as políticas do bloco e destinar 10% do orçamento para a
melhoria da biodiversidade.
Nos EUA, políticos que trabalham com organizações conservacionistas
introduziram recentemente uma resolução para angariar apoio para a proteção de
30% das áreas terrestres e marinhas do país.
A defesa dos direitos dos povos indígenas é fundamental para a proteção
de alguns habitats naturais de maior biodiversidade do mundo, como a Amazônia
brasileira
Todos os olhos estão voltados agora para a Convenção sobre Diversidade
Biológica (CDB), um tratado multilateral criado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) para elaborar um plano de 10 anos para a biodiversidade.
A convenção de 2010 fez um apelo para que 17% das terras e 10% dos
oceanos do planeta fossem protegidos de alguma forma até 2020. Essa meta não
foi alcançada — cerca de 16% da superfície terrestre e menos de 8% dos
ecossistemas marinhos foram protegidas.
Portanto, atingir a meta de 2030 exigiria quase o dobro de áreas
protegidas em terra, e quatro vezes mais nos mares — tudo isso na próxima
década.
É um desafio assustador, mesmo que haja boa vontade, uma vez que alguns
países — sobretudo Brasil e Estados Unidos — se movem na direção contrária.
O presidente Jair Bolsonaro tomou medidas que podem abrir a Floresta
Amazônica para uma onda de desmatamento, exploração madeireira e
desenvolvimento agrícola. E, no ano passado, o governo do presidente Donald
Trump acabou com o Landscape Conservation Cooperative Network, um programa da
era Obama que criou 22 centros de pesquisa para combater problemas de
conservação no país.
Estima-se que os EUA, sozinho, perde um campo de futebol de natureza a
cada 30 segundos. Muito mais terras estão sendo perdidas na Amazônia
brasileira, com mais de 25 quilômetros quadrados de floresta tropical sendo
queimados ou desmatados todos os dias.
Mesmo assim, há motivo para ser otimista. Os relatos de mudanças
climáticas em grande escala, incluindo o derretimento do gelo marinho do Ártico,
assim como os holofotes voltados para a ativista climática sueca Greta
Thunberg, de 17 anos, parecem ter despertado de alguma forma as pessoas.
"Os jovens em geral estão focando nas questões ambientais",
diz Brian O'Donnell, diretor da Campaign for Nature. "E estamos vendo
muito menos uma abordagem isolada, aqueles que trabalham com clima e aqueles
que trabalham com conservação estão trabalhando mais juntos".
As metas ambiciosas de campanhas como 30x30 e Half Earth enfrentaram
críticas. Alguns questionam se o foco em preservar até metade da superfície da
Terra contribuirá o bastante para proteger a biodiversidade remanescente.
"Quando o IPBES foi lançado, dizia que 1 milhão de espécies estavam
ameaçadas", afirma Gary Tabor, presidente do Center for Large Landscape
Conservation em Bozeman, Montana, nos EUA.
"Não se trata apenas de salvar espécies, trata-se de manter os
processos ecológicos que sustentam toda a vida na Terra. São 1 milhão de
espécies interagindo entre si que limpam sua água, fornecem solo fértil, que
eliminam o CO2 do ar — é isso que você perde".
A prevenção de doenças, por exemplo, é um importante serviço prestado
pelo ecossistema de sistemas naturais intactos.
Conforme as pessoas desmatam terras selvagens ou comem animais
selvagens, as doenças que essas criaturas carregam podem ultrapassar a barreira
das espécies e se espalhar para as sociedades humanas. A pandemia de
coronavírus, por exemplo, pode ter se originado em morcegos.
Segundo Tabor, a natureza também precisa ser integrada aos lugares onde
as pessoas vivem.
"O maior mal entendido sobre o Half Earth é de que haverá uma
construção bizarra onde as pessoas vivem de um lado e a natureza do
outro", diz ele.
"Isso não funciona em termos de função ecológica, e não funciona
porque há valor de conservação fora das áreas protegidas."
Conservacionistas afirmam ainda que grande parte de alcançar as metas de
30% ou 50% se refere a apoiar terras indígenas e áreas de conservação
comunitárias.
Os povos indígenas ocupam ou controlam 28% das terras do planeta, e mais
de 40% das áreas protegidas, segundo o relatório do IPBES, copresidido por
Sandra Díaz, professora de ecologia da Universidade Nacional de Córdoba, na
Argentina.
Quais são as principais barreiras para reservar 30%, quem sabe até 50%,
do planeta para a natureza, mesmo com a população global crescendo rapidamente?
"A maneira como nosso sistema agrícola mundial funciona", diz
O'Donnell, da Wyss Campaign for Nature."Incentiva o uso cada vez maior de
terras para pecuária e agricultura. Esse é um fator-chave".
A Wyss Campaign for Nature está priorizando soluções de financiamento
para proteção ambiental. "Estamos estudando o custo da proteção e também
observando qual seria o custo se você não protegesse essa quantidade de terra,
em termos de serviços ambientais perdidos, água limpa e atividade
pesqueira", explica O'Donnell.
"Há um custo para conservar a terra, e outro custo se não
conservarmos".
E transformar terras em reserva ambiental não é de forma alguma o fim da
história. A Campaign for Nature está estudando possíveis fontes de financiamento
para que os países possam pagar pelos custos de gerenciamento e proteção dessas
terras.
Entre as muitas ameaças que grandes extensões de terra enfrentam,
incluindo aquelas ostensivamente sob proteção, estão a construção de estradas e
a fragmentação. Segundo Tabor, o número de estradas pavimentadas deverá dobrar
nos próximos 25 anos, abrindo grandes áreas para a exploração ilegal de
recursos, caça clandestina e outras ameaças.
"As pessoas irão primeiro para a [floresta] boreal ou para a África
Central", para proteger grandes extensões da natureza, acrescenta ele.
"Mas a maior parte onde há biodiversidade está em áreas fragmentadas. Para ter natureza efetiva nessas áreas, teremos que ter uma estratégia de conectividade". O'Donnell concorda que há enormes desafios.
"Assim como a crise climática exige grandes mudanças sistemáticas
nas próximas décadas, o mesmo acontece com a biodiversidade", diz ele.
"Há muitas outras coisas competindo por dinheiro e atenção".
* Este artigo foi publicado originalmente pela revista americana Yale
e360 e republicado pela BBC Future com autorização.
Redatora, Blogueira, Revisora, Escritora, Vegana. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos Conheça mais sobre o movimento que mais cresce no mundo e faça escolhas conscientes! Por sua saúde, pela preservação do meio ambiente e por compaixão aos animais. Para mais informações acesse o link |
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