Relatório divulgado em julho de 2024, pela organização holandesa Changing Markets Foundation, revela o que, exatamente, seriam as principais práticas empregadas, sistematicamente, pelos gigantes mundiais da carne e dos laticínios, que resultam em distração, atraso e inviabilização da transição alimentar, no enfrentamento da crise climática.
Intitulado “Os novos comerciantes da dúvida”, a pesquisa analisou as ações de 22 das maiores empresas de carne e laticínios do mundo, em quatro continentes – incluindo a brasileira JBS.
Segundo o relatório, o setor tem inviabilizado ações
climáticas significativas a nível global, por meio de lobby junto a políticos,
investimentos maciços em publicidade, para públicos mais jovens, e uso de
ciência enganosa, para minimizar o impacto que suas atividades têm nas emissões
de metano e disseminar falsas alegações climáticas.
Documentos obtidos via leis de acesso à informação revelam,
por exemplo, o extraordinário acesso que o setor tem a políticos. Somente na
última década, representantes dessas indústrias, tiveram mais de 600 reuniões
de alto nível com a Comissão Europeia.
“Memorandos internos revelam como o principal grupo europeu da
indústria láctea celebrou a manutenção do metano fora da legislação sobre
qualidade do ar e está a preparar-se para mantê-lo assim nas próximas revisões
da lei previstas para 2025”, diz trecho do relatório.
Fazendo uma comparação às táticas usadas pelas indústrias do
tabaco (quem viveu os anos 80 lembra muito bem da mídia usada pela indústria
tabagista) e dos combustíveis fósseis, o relatório também revela que as grandes
empresas do setor empregam táticas como a intimidação e o medo sobre
consumidores e pequenos agricultores, ao alegarem que leis mais restritivas,
por exemplo, implicariam em prejuízos para tais públicos.
Investigação
A pesquisa envolveu mais de 15 investigadores especializados e
jornalistas de investigação, entre fevereiro de 2023 e junho de 2024. A
investigação mostra que as grandes indústrias do setor estão, especialmente,
preocupadas com as gerações mais jovens, que consomem menos carne e laticínios
do que as gerações anteriores.
Elas visam, diz o documento, a “Geração Z” (nascidos entre
1995 e 2010, com campanhas publicitárias enganosas no TikTok e no Instagram,
promovendo falsamente a carne e os laticínios como escolhas sustentáveis e
mais saudáveis em países de alto consumo como os EUA e o Reino Unido, contra
as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os sistemas alimentares contribuem para aproximadamente um
terço das emissões globais, sendo 60% provenientes da pecuária – a maior fonte
de metano produzido pelo homem. No entanto, apenas 15 das 22 grandes empresas
de carne e laticínios têm uma meta de emissões líquidas zero e nenhuma cumpre
as normas da ONU. A Danone é a única empresa com uma meta específica de metano.
“Tivemos as Grandes Indústrias do Tabaco, tivemos as Grandes
Petrolíferas, agora temos as Gigantes Carnes e Laticínios. ‘Os novos
comerciantes da dúvida’ é uma exposição impressionante das táticas das grandes
empresas de carne e laticínios. O relatório descreve exemplos específicos e
flagrantes de campanhas de desinformação, greenwashing e interferência
política. E esclarece como a indústria manipula o preço e os tipos de alimentos
que comemos”, diz o pesquisador Paul Behrens, Professor Associado de Mudanças
Ambientais na Universidade de Leiden, na Holanda.
Nossas escolhas
Na prática, em nosso dia a dia, o que podemos fazer? Afinal,
estamos diante das gigantes indústrias que buscam, literalmente, moldar nossas
escolhas de consumo. Mas sejamos honestos. Nós humanos precisamos tomar leite
de vaca, para sobreviver? É óbvio que não! Na verdade, já temos disponíveis no
mercado, inúmeras opções de leite vegetais, que são mais saudáveis e que contribuem
para o meio ambiente, afinal, o leite da vaca é para o bezerro!
Nessa mesma linha de raciocínio, precisamos comer carne de animais?
Não! A natureza nos dá uma variedade enorme de alimentos, muito mais ricos em
vitaminas e nutrientes. Inclusive, hoje, dispomos de carnes vegetais no mercado.
Fazendo isso, reduzimos o consumo de água no planeta,
reduzimos o desmatamento e reduzimos, de maneira substancial, os gases do
efeito estufa. E mais, se podemos acabar com o sofrimento e morte de animais,
por que não fazê-lo?
Assim sendo, a mudança está em nossas mãos e não nas dos
Comerciantes da Dúvida.
Pense nisso e mude hoje, para contribuir com o nosso amanhã.
Redatora, Blogueira, Revisora, Escritora, Vegana. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos |
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