quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Fiscais agropecuários denunciam abate de vacas prenhas para consumo no RS





Prática é recorrente nos frigoríficos do Estado, relatam servidores

Matéria de Giovani Grizotti

Imagem O Globo

Fiscais agropecuários estaduais alertam para o abate para consumo humano de vacas prenhes em estágio avançado de gestação. O tema foi abordado em reportagem exibida pelo RBS Notícias. A Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul alega que, desde 2017, o Ministério da Agricultura permite a venda desse tipo de carne. A Secretaria de Agricultura garante que vai discutir o assunto internamente. Uma das alternativas é criar uma legislação estadual para desestimular a prática.   

Os vídeos dos abates foram gravados pelos próprios fiscais que realizam o controle do abate dentro dos frigoríficos. Parte dos registros foi realizada na semana passada. Em um conjunto de nove fotos, dá para contar 97 fetos enfileirados em vários frigoríficos.

— É uma rotina nos estabelecimentos. A quantidade é exagerada e isso choca pra quem estudou pra cuidar do bem-estar dos animais — afirma a fiscal agropecuária do estado Raquel Cannavô, que revelou as imagens.  

Em um dos registros, é possível perceber o filhote se mexendo no útero da mãe, momentos antes do abate. As imagens revelam os fetos, praticamente formados, sendo retirados dos animais.

– O que mais me deixa triste é ver uma vaca prenha indo pro abate. Eu sei o quanto é difícil emprenhar uma vaca, o quanto é custoso. Muitas vezes, esses animais vêm para o abate prenhes para serem descartados. É um dos momentos mais dificeis de fiscalização – afirma o fiscal agropecuário Paulo Anezi Júnior.

– Na legislação anterior, essas carcaças  de fêmeas abatidas em estado de gestação não poderiam servir para consumo in natura. Então, elas acabavam sendo descartadas e isso acabava sendo um prejuízo econômico para o estabelecimento e para o produtor, o que não acontece mais hoje. Essas carcaças elas podem ser aproveitadas e não existe nenhum tipo de penalidade, nenhuma multa ou algo do tipo – explica Beatriz Scalzilli, vice-presidente da associação.

Procurado pela RBS TV, o ministério não informou as razões das mudanças nas normas. De acordo com os fiscais, esse tipo de situação é tão frequente que, às vezes, as fêmeas dão à luz momentos antes de serem abatidas. Nesse caso, a rês só pode ser carneada dez dias após o parto. Em depoimento à reportagem, um ex-funcionário de um frigorífico gaúcho disse já tentou evitar o abate de reses no terço final de gestação, sem sucesso. 

– Sendo mandado pelo patrão, tinha de fazer. Numa ocasião, a gente chegou no "mangueiro", um dia, pra tocar o gado pra dentro, pra abater.  Tinha uma vaca deitada e agonizando pra parir. (...) Pelo tamanho da vaca, pelo jeito dela, havia dois terneiros dentro do útero. "Mas não interessa", diz ele. Pode abater. A gente fez o serviço. Quando abriu o ventre dela, dois terceiros "macho". Eu, como é que  vou te dizer, só não chorei por im capricho né – lamenta.  

Conforme ele, até a carne dos fetos era aproveitada para ser vendida como vitela, que no mercado tem origem em terneiros jovens, de até um ano. 

— Eu fazia esse serviço de abater o terneiro, abater eles, no caso, carnear. Tava morto, a gente já tirava da vaca morto — diz o ex-funcionário.

Carnear animais prenhes é situação comum entre os abigeatários. Quando faz o flagrante, a polícia indicia os responsáveis por maus-tratos. O delegado que investiga crimes rurais diz que os donos de frigoríficos também podem responder na Justiça, com pena de até um ano de prisão. 

– As imagens são fortes. A gente verifica que o bem-estar animal não está sendo respeitado realmente, e pode incidir a lei de crimes ambientais, no crime de maus-tratos – afirma o delegado André Mendes.

Relatos de autoridades e produtores indicam que muitos criadores deixam as vacas emprenharem de propósito, porque assim, elas não entram para o cio, comportamento que reduz o ritmo da engorda. O Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio Grande do Sul, entretanto, condena a prática, e afirma que isso é uma ilusão. 

– Não vale a pena para o produtor porque ele tem uma falsa ideia de que a vaca acaba engordando a mais, mas no frigorifico ela acaba sendo contada apenas pela carcaça, ou seja útero, feto e fluidos fetais acabam sendo descontados e todo esse peso que acaba sendo descontado não vale a pena para o produtor, falando na questão econômica. Não vale a pena para o produtor rural. É uma falsa ideia de estar ganhando dinheiro – afirma João Pereira Jr, diretor do sindicato.  

Representante dos criadores, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) concorda e diz que vender um animal nessas condições é mau negócio para o criador. A entidade que representa os frigoríficos também afirma ser contra esse tipo de abate, mas admite que se trata de uma realidade no mercado.   

— Nós defendemos que a vaca prenha fique no campo e termine seu ciclo de prenhez (gestação). O frigorifico só descobre se a vaca esta prenha quando ela já está no seu processo de abate. quem deveria estar controlando isso a nível de campo é o próprio produtor — diz Ronei Lauxen, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do RS (Sicadergs).  

“Não é aceitável o abate dessas vacas prenhes. É considerado um desrespeito aos preceitos de bem estar animal. Como médicos veterinários, de acordo com o nosso código de ética, somos obrigados a denunciar estes maus tratos”, explica a fiscal estadual agropecuária Raquel Cannavô, que há pelo menos cinco anos vem observando este problema.

Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), as fêmeas em fase final de gestação são considerados animais inaptos a viajar, pois necessitam de condições especiais. Seguindo esta diretriz, na lei estadual de proteção aos animais (15.363/2019) também consta esta orientação. O decreto 53.848/2017, que trata sobre a inspeção e a fiscalização dos produtos de origem animal no Estado, diz que não é permitido o abate de animais em fase final de gestação. A legislação, porém, não prevê multa ou outro tipo de penalidade.

Para coibir a prática, a legislação precisa ser revista de forma que seja possível responsabilizar, por meio de uma penalidade que seja efetiva, os produtores que enviam vacas prenhes para o abate e os estabelecimentos que seguem abatendo fêmeas em gestação. 

Fonte: Gaúcha ZH e Jornal do Comércio 

De acordo com a ONG Mercy for Animals, cerca de metade das vacas estão grávidas quando são abatidas. Por mês, uma média de 2,6 milhões de bois e vacas são abatidos no Brasil, o que representa uma média de quase 62 animais por minuto. Se pensar nessa quantidade de animais que lutam bravamente por suas vidas morrendo já é triste, imagine então pensar que metade das vacas mortas para consumo de carne estão grávidas?

Um levantamento apresentado no final do ano passado no VI Congresso Estadual de Iniciação Científica e Tecnológica do Instituto Federal Goiano mostrou que entre 33% e 58% das fêmeas estão prenhas quando são abatidas. 46,84% delas encontravam-se no segundo terço de gestação e assustadores 23,16% estavam no último terço de gestação, quando estudos mostram que os fetos já estão bem desenvolvidos e são capazes de sentir dor e desconforto. Sem ligação com as mães, já mortas, os bebês bezerros morrem por asfixia.

Matéria completa aqui https://mercyforanimals.org.br/metade-vacas-gravidas-abate

Diversas matérias em todo o mundo revelam essa prática horrenda, tendo em vista que a indústria do leite está diretamente associada à indústria da carne. São as mães vacas que, quando esgotadas e doentes, não servem mais para produzir leite são enviadas para o matadouro.

E por estarem constantemente grávidas para que haja essa produção não natural, que serve para alimentar seus filhos bezerros e não os desumanos, que, muitas delas, chegam a esses locais para serem carneadas com seus bebês no ventre. Isso tudo é uma monstruosidade!

Saiba mais aqui http://acaopelosdireitosdosanimais.blogspot.com/2019/06/sobre-maes-e-filhos-as-confissoes.html

Cabe ressaltar que também a prática do bem-estarismo de deixar nascer, para quatro semanas depois abater, também, é cruel. Isso se aplica a todas às fêmeas, vacas, porcas e ovelhas. A abominação de explorar um ser vivo, reproduzir e matar a mãe para, então, se apropriar de seu filho para explorar sua vida, e seguir o ciclo macabro de exploração e morte de seres vivos, considerados de consumo.

Uma mudança simples na nossa alimentação, deixando de consumir derivados animais, é a melhor forma de acabar com a crueldade animal. 


Dizy Ayala

Redatora, Blogueira, Revisora, Escritora, Vegana.
Defensora dos Animais e do Meio ambiente.
Comunicadora Formada em Publicidade e Propaganda -  
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos

Autora dos Livros:

Uma Escolha pela Vida - A Importância de Nossas Escolhas Diárias de Consumo & Veganismo em Rede - Conexões de um Movimento em Expansão

Para mais informações acesse o link

Conheça mais sobre o movimento que mais cresce no mundo e faça escolhas conscientes! Por sua saúde, pela preservação do meio ambiente e por compaixão aos animais.

2 comentários:

  1. EU AMO ANIMAIS...NÃO ADMITO...NEM ACEITO TANTA CRUELDADE....

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  2. Hoje, 20 de setembro, "Dia do Gaúcho" demonstro publicamente minha indignação com tanta monstruosidade! Pessoas destituídas de humanidade, desde a profissão que "abraçam", que é a morte premeditada, até os pratos recheados de sofrimento de cada cidadão "carnívoro", que, aliás, não poderia autodenominar-se "carnívoro" e, sim, necrófago, pois do animal abatido restam apenas os restos estraçalhados e cremados.
    Aliás, hoje, nesta data "comemorativa" o cheiro exalado dos cadáveres deixou meu bairro, como tantos lugares pelo planeta, totalmente identificado como crematório. Triste e abjeto!!
    E os humanos ainda falam em Paz!

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